sexta-feira, 16 de março de 2018

Narrativa de vida

HELIO DE AZAMBUJA RODRIGUES ( amhar@globo.com)

cidade: RIO DE JANEIRO
estado: RJ
idade: De 61 a 70 anos
sexo: masculino

 Narrativa de vida

Domingo, 04 de agosto de 1968, domingueira dançante, muito rock e twist no Botafogo, sede social no clube na Avenida Wenceslau Brás horário da tarde, local onde a se ia para dançar e paquerar as meninas.
Nosso grupo de rapazes e moças jovens e que moravam pelas imediações do clube, namoravam entre si, obedecendo os gêneros de cada um, frequentavam a praia ali na Princesa Isabel em Copacabana e faziam incursões pelo Carioca Esporte Clube na Rua Jardim Botânico. Tempo bom de bossa nova para as horas de paquera e muito twist para diversão.
Naquele dia, eu paquerador e cheio de meninas pretendentes, não dispensava ninguém, elas me namoravam e eu nem sabia. Surge no meio de um outro grupo uma menina linda de minissaia com um sorriso esplendoroso que mexeu com meu coração. Esqueci tudo, era como se a domingueira começasse agora. Duas covinhas brilhavam quando ela sorria e não era para mim, era para as pessoas que com ela conversavam. Fiquei petrificado, tinha que conhecê-la, precisava conversar com ela.
Deixei os amigos, misto de "bichos" legais, dispostos a namorar muito, mas também prontos para fazer uma boa briga contra grupos rivais e fazer terminar em pancadaria, que não traziam sequelas, apenas entoavam cantos de vitória e alguns arranhões sem consequência naquela domingueira, quando não havia emoção ou estava muito ruim sem possibilidade de grandes amassos.
E fui ao encontro dela, esperei uma música lenta, aquelas para rostinho colado que sempre rolavam em sequência de três canções e a chamei para dançar, ela olhou para o Manda Chuva do grupo, depois fiquei sabendo que era o irmão mais velho que vinha acompanhado da noiva para proteger e dar a família a certeza que elas, todas irmãs, voltariam incólume para casa.
E para minha surpresa, ao começar a dança, cheio de emoção e com um cuidado extremo para não a magoar, ganhei um beijo no rosto. Pronto, desmoronou meu coração, ali morria o último lobo mau. Cativo para sempre.
Fomos para varanda do salão, conversamos muito, fiquei sabendo que ela se chamava Marilene, era a caçula de nove filhos de Laura, aquele era o irmã o mais jovem e que se dispunha a trazer as meninas para a domingueira. Eles eram quatro rapazes e cinco moças e moravam em uma vila de casas na rua São Clemente.
Começamos a namorar com o consentimento do irmão, primeiro no Botafogo e depois frequentando a casa dela, já como amigo de todos, incluindo os namorados e namoradas. Era como um rubro negro entrando em festa de vascaíno. Tinha muito que sofrer com os irmãos dela para ganhar um espaço, sorte que o Flamengo estava bem naquele ano e pude me sair bem.
Ela tinha 15 anos completados em maio daquele ano e eu 20 anos que completaria em dezembro daquele mesmo ano. Nossa vida passou a ser só sonhos. Ela estudava a noite no catete, eu ia busca-la, trocávamos beijos e fazíamos planos. Voltei a estudar para poder alcança-la e terminado o ginasial, fomos juntos para o ensino médio estudar contabilidade na Candido Mendes. 
Com as dificuldades normais que as famílias de classe média baixa enfrentam, começamos a juntar plan os e renda para o casamento, ela costurava para uma importante boutique e eu era bancário.
E surgiu então uma data, descobrimos que no dia 04 de agosto de 1973, estaríamos completando cinco anos de namoro, fiz meu pedido de noivado na festa de Natal, reunindo minha mãe e irmã, ofereci as alianças e partir de então começamos a trabalhar na construção do nosso futuro.
Não posso dizer que tive sorte, posso afirmar que escolhi muito bem, uma mulher parceira, trabalhadeira, dedicada e sincera, disposta a construir um verdadeiro lar. Juntamos nossas poucas economias, ela ajudava em casa financeiramente, todos colaboravam na família gigante que possuíam e eu também ajudava minha mãe com o pouco de ganhava no banco, minha irmã cuidava de minha vó para que pudéssemos trabalhar e a vida precisava seguir seu curso.
Alugamos um apartamento em Copacabana, uma quitinete com um pouco mais de 40 m2. Fizemos uma sala linda para receber os amigos e colocamos a cama de casal em pé atr ás de uma cortina, tínhamos um sala e quarto improvisado mais de muito bom gosto. 
Os detalhes, trago na memória como um troféu dos tempos de quem iniciava a vida. Na parede a esquerda de quem adentrava, entre o banheiro e a janela, colocamos a cama comprada em uma loja na praia de Botafogo, presa na parede, ela ficava com 30 cm, ao lado dela criamos um espaço para sapateira, vassouras, enceradeira Arno, a tábua de passar roupa e outros guardados. Na oposta, a televisão Admiral de plástico, presente do padrinho Sr. Bené, Chefe de Serviço da Agencia onde eu trabalhava. Mesa redonda com cadeiras de palhinha para almoço, jantar e cartas com amigos. Um armário completava o ambiente com duas portas e quatro gavetas para nossas roupas e as bijuterias dela e uma estante com portas vermelhas, uma espécie de bar. No corredor de entrada, a máquina de costura comprada para efetuar os trabalhos exigidos pela boutique que mais tarde foi abandonada para que ela exercesse a função em um importante escritório como secretária e mais tarde Chefe de Cobrança, uma pequena geladeira GE vermelha em frente a cozinha, que você mal podia entrar mais que possuía um fogão muito pequeno em cima de uma pia. Ele possuía duas bocas de chama e um minúsculo forno.
Quando as pessoas perguntavam, onde ficava o quarto do casal, dizíamos atrás da cortina e aqueles mais curiosos se assustavam com a cama presa na parede em pé que podíamos baixar quando íamos dormir e cuja cabeceira era um pôster dela linda no dia do casamento. Tempo bom, de problemas, dificuldades, mais de muita felicidade. Como em Copacabana tinha seus problemas, falta de água era um deles, colocamos uma caixa d'agua para que não faltasse a noite quando chegando do trabalho precisávamos tomar banho, lavar a roupa e tudo mais.
Casamos então na data em que comemorávamos cinco anos namoro, acompanhados por muitos amigos e torcedores por nossa felicidade. Um deles trouxe uma pequena bateria de bloco carnavales co e saímos da Igreja São José da Lagoa sambando e fazendo um verdadeiro carnaval em pleno mês de agosto. Entramos na vila em que minha agora esposa morava, ela de porta bandeira eu de mestre sala, acompanhados por verdadeiro séquito desfilamos com um cabo de vassoura da entrada da vila até a casa onde realizamos a festa de casamento.
Em nossa lua de mel, ela me mostrou uma camisola transparente que guarda até hoje como uma joia, e curtimos. O passeio não poderia ser em outro lugar que não fosse o Rio de Janeiro, o que tínhamos e o que não tínhamos estava na festa e muito mais no apartamento em que íamos viver.
Esquecemos os problemas e resolvemos curtir da forma que dava, passeamos pelo Maracanã, fomos ver jogos. Passeamos no Jardim Zoológico, visitamos Cristo Redentor e o Jardim Botânico, subimos o Pão de Açúcar (naquele dia sugar loaf).
Levávamos nossa felicidade para que o RIO visse, essa era a nossa proposta. A lua de mel como se conhece, viria um dia se Deus a ssim quisesse.
Para mostrar aos amigos, nossos passeios e os slides do casamento não tínhamos o espaço necessário e então com auxílio de um equipamento apoiado na janela, projetávamos na parede lisa do prédio em frente as fotos de nossa felicidade. Muita gente, mesmo sem querer participou das visitas que recebemos em nossa quitinete. 
Ela subiu na profissão, passou a ter um bom salário, nossa luta ficou mais amena, então aguardamos dois anos para ter nosso primeiro filho, depois mais dois para ter o segundo e mais três para ter a menina que eu queria dar o nome de Cecília, uma homenagem a personagem de José de Alencar por quem eu tinha um carinho especial, pois na infância em um colégio interno havia sido minha companheira e amiga.
Hoje estamos nos aposentando das ginasticas da vida e deixando aqueles sonhos para que outros também o façam, nossos sonhos hoje buscam a felicidade dos filhos, do neto e daqueles que virão. 
Agora ao completar 44 anos de casamento e 4 9 do mais puro amor, da mais pura amizade e companheirismo, quero expressar tudo que foi vivido através de letra e música que compus em ode a esse amor, podendo mostrar a ela e ao mundo a gratidão de uma vida plena de felicidade com os percalços que todos carregam mais que essa guerreira soube enfrentar.
NOME DA MÚSICA: "M" - em D - batida POP

Musa menina Marilene
Maná maravilhoso
Manhã manhosa
Minha metade mulher
Moça missão mãe
Mel meigo
Melhor mutação
Mesma mensagem
Maga mestra marfim
Manso manto
Maior morada
Motivo mundo marido
Motriz mudança maior
Misterioso mimo
Mar move montanhas
Musical murmurar
Modelar misto momento
Meu mármore 
Meio melado
Môca, moquinha.

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