segunda-feira, 2 de abril de 2012

ANEDOTA DE MINHA AVÓ - Paulo Miranda Sarmento

ANEDOTA DE MINHA AVÓ

            Contadas, por minha progenitora materna, diversas estórias, entre elas uma anedota que, até hoje, provoca surpresa e risos; em sua memória, sinto-me motivado em transmiti-la:-

            Apesar de serem três belíssimas moças, a genitora delas não sabia como iria casá-las, em virtude de que todas tinham o problema denominado “ta ti bi ta ti”. Melhor esclarecendo, possuíam línguas presas. Assim sendo, em um determinado dia, a mãe teve a idéia de que as filhas pudessem ser vistas, desde que não falassem:- Colocou bonitos coloridos laços de fita na cabeça das jovens, deixando-as à janela da sala, para que fossem notadas da rua. Fez a recomendação para que se mantivessem em silêncio, ainda que a elas alguma pessoa se dirigisse. Caso fossem interpeladas, poderiam apenas movimentar seus lindíssimos cabelos, esboçando sorrisos.

            Deslumbrado, não se contendo diante de tanta beleza reunida, um rapaz que ia a caminho de seu trabalho, pela manhã, cumprimentou-as com um sorridente “bom dia”. Tendo como resposta risos e meneios de cabeça, elas não articularam uma sílaba sequer. Retornando a sua residência, para almoçar, o cavalheiro voltou a saudá-las, desejando-lhes boa tarde, no que foi correspondido da maneira anterior. O mesmo ocorreu no regresso de sua casa, sem que ele conseguisse delas retirar uma só palavra.

            Terminado seu horário de trabalho, fazendo o mesmo trajeto de retorno, ao por do sol, o jovem decidiu voltar a dirigir-se às donzelas, tentando quebrar-lhes o silêncio, que tanto o inquietava. Repetindo a saudação, completou-a com o pedido de um copo d’água, no que foi atendido. Após beber o líquido, deixou cair propositadamente o recipiente, que se espatifou na calçada. Uma das moças, surpreendida com o ocorrido, exclamou: “Chi... Tebou a tatainha da mamam”! A seguinte, recriminando a primeira, falou: “ Mamam non disce qui non faiasse”. Defendendo-se, a última disse: “Bem fi eu qui non faiei”.

            Como se não bastasse a piada, contada pela minha circunspeta vovó, porém bem humorada, eu não conseguia saber o nome exato da palavra “tatainha”. Despertou-me a curiosidade de seu significado, após muito tempo, embora a referência fosse feita ao copo que fora quebrado propositalmente. Consultei minhas tias sobre o vocábulo mencionado, sem que me pudessem esclarecer a respeito. Depois de alguns anos, morando no Estado da Paraíba, ouvi alguém pronunciar o diminutivo de taça: Tacinha... (tatainha)! Estava desvendado o aparente mistério, que eu vinha tentando resolver, mas que a falta de uso do termo, no linguajar cotidiano, não me permitia atinar. (a)   Paulo Miranda Sarmento.

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