terça-feira, 18 de outubro de 2011

Caminhada... - LisTarga

LisTarga (listarga@hotmail.com)

cidade: Paranaguá
estado: 0
idade: De 61 a 70 anos
sexo: feminino
categoria: OUTRAS
titulo: Caminhada...
texto: Caminhada (LisTarga)
Do encontro de duas almas, num momento de rara beleza e de turbilhão de emoções, no momento "Fiat" de Deus, um novo ser se fez e...eu surgi, neste maravilhoso mundo onde vivo. Sou única e irrepe tí-vel, mas insubstituível?
Fui criança, sabe menino. Brinquei tanto de tantas coisas gostosas que hoje nem se acredita que e-xistiram. Eu brincava com amiguinhos de carne e osso como eu, não com máquinas como você o faz hoje. Meus companheirinhos cantavam, brigavam, brincavam na rua, sem medo do próprio homem, apesar do homem. Nos labirintos da minha imaginação fui bailarina, cantora, dizia que cantava em inglês enrolando a língua, atriz protagonista sempre, a primeira.
Aprendi sobre as quatro estações do ano. Apreciei cada momento delas, passando de uma para ou-tra sem sentir, sem nada notar: apenas deixando o tempo fluir magicamente em minha vida. Os quatro elementos: fogo, terra, água e ar, festejavam comigo a existência e a passagem do tempo. E eu crescia, como o Filho de Maria, em tamanho, sabedoria, mas não com tanta graça. Mas também vi que as quatro estações também dividem a passagem do tempo em nossa vida.
No verão, eu era menina livre, descalça, roupas s imples, brincava na praia, na praça, na rua, na a-reia, no mato. Apenas brincava e lia. Sempre gostei de ler. Boa aluna, eu adorava ir para a escola. Acho que nunca faltei aula por preguiça, mas sempre por dor de cabeça que me incomoda desde os oito anos. Talvez para me dizer que ali está o comando de nossas vidas, a razão, que se une ao coração para dar vida e sentido à caminhada.
Cresci um pouco mais em tamanho e sabedoria, mas, ao mudar do verão para a primavera, ao re-dor de mim nem tudo eram só flores. Os espinhos da rosa começaram a se mostrar um tanto hostis. Eu já não era mais protagonista sempre, havia outros artistas tão ou mais importantes que eu. O sentido da per-da já estava presente nas notas, em casa, com os amigos que já não eram tão amigos, os namoradinhos. A vida começou a me ensinar a fazer escolhas. Escolhi meu namorado, noivo e depois marido, enxoval, pro-fissão, casa. Novamente o encontro de paixão, amor, doação, emoção, decepção, tudo em turbilhão e , Deus escolheu meus filhos, frutos do meu ventre e meus netos, anjos da minha vida.
No verão, pouco plantei sozinha, pois tinha meus pais, irmãos e professores que me ajudavam no caminho. Davam-me o peixe e me ensinavam a pescar. Na primavera, eu já sabia pegar no arado e as sementes já eram lançadas por mim nas ranhuras da terra. Plantei bem? Pesquei direito? Ao fazer minhas escolhas, comecei a perceber o desabrochar dos frutos. E, assim, notei que o outono chega muito mais cedo na vida do que como simples estação do ano. Quando fazemos algo, naquele exato momento em que se está ocupado na criação, sempre pensamos estar fazendo o melhor. A colheita vem depois. E é implacá-vel.
O tempo passou e com ele eu segui minha viagem numa caminhada incessante, deixando minha presença marcada na minha trajetória terrena. E aqui estou: sexagenária, viúva, bem amada?, aposentada, mãe, avó, amiga dos que me acolhem e em mim confiam, exigente comigo mesma e com o que quero para mi m. Perdôo como quero ser perdoada, prefiro consolar, mas necessito ser consolada, tocada pelos meus filhos, netinhos e amigos, amo muito e gosto de sentir que sou amada, apaixonada por Cristo e minha Mãe Maria. Agora compreendo mais e julgo menos, pois tento entender os motivos das faltas do meu semelhante. Cansei de "dar murro em ponta de faca" o que só me feriu bastante deixando cicatrizes para me fazerem lembrar que somente o tempo e a experiência podem apontar um bom caminho a alguém.
No outono da minha vida, sinto as quatro estações se misturarem como faziam no meu verão. A pa-lavra "envelhecer" existe apenas para me lembrar que hoje eu tenho mais passado que futuro, mas que no meio deles está o presente, dádiva de Deus, o hoje, o agora, que precisa ser apreciado, saboreado como uma fruta fresca recém colhida no outono da vida. Tento fazer o meu melhor, pois "Quando Jesus passar eu quero estar no meu lugar". Só assim saberei se a caminhada realmente valeu a pena.

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