domingo, 21 de novembro de 2010

Dança menina - Iracema Beatriz de Alencar

Iracema Beatriz de Alencar (biadealencar@gmail.com)


cidade: Presidente Prudente

estado: SP

idade: De 61 a 70 anos

sexo: feminino

categoria: POESIAS

titulo: Dança menina

texto: Menina sapeca levada da breca brincava de tudo até com boneca.

De bete e de malha à gata pintada, de pique e casinha com a meninada.

Corria, pulava, dançava na rua.

Andava a cavalo e bicicletinha,

Sem medo de nada,

Pois medo não tinha.

Na quadra da escola a bola imperava, jogando, driblando com a molecada.

Menina não pára.

Subindo ao altar de Nossa Senhora, menina cantou com grande emoção, ofertando a palma que tinha nas mãos: "eu te ofereço esta palma, esta palma colorida..."

Uma fada madrinha a convenceu: "vá para o palco que ele é seu".

Como flor se vestiu em crepom colorido, recebendo aplausos dos entes queridos.

Menina gostou e pro palco voltou.

Menina cantou "nóis vai casá em janeiro eu cum tu e tu cum nheu" e "abecedeé abecedeé, homi é fio de muié".

Pequena no palco brilhava feliz.

Se achando bonita se arruma e se pinta pensando que um dia seria atriz.

A fada madrinha mudou de cidade deixando a menina com grande saudade.

Duas bruxas malvadas surgiram do nada e dizendo feiosa, a deixam arrasada.

Menina tristonha então se encolheu achando que o palco, não mereceu.

Se joga no esporte correndo na quadra, bailando com a bola, driblando, levando pernada.

Beleza não conta só bola encestada.

Menina mocinha vai para os bailinhos e se ilude dançando com os rapazinhos.

Formou-se e casou-se repleta de sonhos frustrados com o tempo.

Dançando em casa, a valsa das mães, com filhos no colo ou segurando suas mãos.

Nesta valsa doméstica ficou sem parceiro que muda de palco, pra outro roteiro.

Sozinha com os filhos e despreparada, toca a vida pra frente e encara a parada.

Dançou na temperança sem perder a esperança.

Engoliu o pão que a sociedade impingiu.

Menina mulher não sucumbiu.

O tempo não pára, o tempo passou e sexagenária, se aposentou.

Pegando a menina grudada tão dentro, puxando pra fora explode no vento.

Sem fada, sem bruxas, com a pele vincada, menina idosa aos palcos voltou.

Dançando em grupo, no ritmo da idade,

Muito à vontade e sem nada a temer,

De vermelho se veste, sonhando, sorrindo,

E com a alma cantando seu alegre viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário