sábado, 13 de fevereiro de 2010

Revivendo os Carnavais - Tania Maria Gurgel do Amaral

Tania Maria Gurgel do Amaral (tania.gurgeldoamaral@yahoo.com.br)

Fortaleza  CE

 Recordar é viver
ontem sonhei com você
Se recordar é viver... preparem-se e juntem-se a nós para navegar nas ondas eletromagnéticas dos neurônios da vida e cair na folia, pois o Carnaval vem aí...

Vem contagiante, empolgando os foliões - pessoas de todas as idades - com um único objetivo: brincar e cantar.

É isso o que faremos agora, caros leitores!

``Revivendo os Carnavais`` é uma viagem de resgate dos carnavais de outrora, curtido pela maioria de nós, com total alegria, descontração e prazer.

Já com o ``pé na estrada``, vamos iniciar o passeio, pedindo licença e passagem à Chiquinha Gonzaga, para dar início ao período de folia com Ó abre alas (Gravação de Abdias e seus carnavalescos), em 1899.

Lembramos como se fosse hoje... Foi na Cidade maravilhosa que ouvimos pela 1ª vez um grito chamando o Zé Pereira composição de Francisco Correia, gravada por Abdias e seus carnavalescos, em 1870.

Que euforia! Que festa bonita! Atraía os brasileiros de todos os recantos e turistas do mundo inteiro. Maravilhoso também era aproveitar para cantar que... a Água que leva tudo, pois é no Carnaval que se lava tudo, menos a língua de muita gente...

E... Carnaval sem confete... não era Carnaval... , pois esta era uma forma de dizer para os paqueras: ``Hey! Eu estou aqui!``

Namorados
No Carnaval, os namorados se desentendiam por questão de ciúmes e outros sentimentos. Brigados, para chamar a atenção, preferiam armar uma confusão e jogar pó de mico. Depois, se arrependiam, e trocavam lindas declarações de amor... cantando: Tá-hi! ...

O período momino era sempre enfeitado, colorido, envolvente e muito vibrante. Não era novidade encontrarmos foliões cantando: Daqui não saio...

Mas... se era por causa de mulher... quando diziam que ``nenhuma delas sabe amar``, por que então não lembrar da Amélia, ``que era a mulher de verdade?`` Amélia (de Ataulfo Alves e Mário Lago). A 1ª gravação de Ai que saudades da Amélia foi feita em 27/1/1941, pelo próprio Ataulfo Alves. Quem sabe a história da Amélia, a mulher de verdade? - Ataulfo e Mário batiam um gostoso papo, no Café Nice do RJ, quando veio à tona o assunto sobre a empregada doméstica da cantora Aracy de Almeida, que se chamava Amélia dos Santos Ferreira. Tratava-se de uma mulher apaixonada, possuidora de forte dose de conformismo em relação ao seu amor. Esta característica serviu de base para a feitura do samba que se tornou o maior sucesso do Carnaval de 1942. Somente em 1962, Amélia se apresentou aos repórteres, como a mulher de verdade, e confirmou que era subserviente, e tudo aceitava em nome do amor. Amélia faleceu de pneumonia, aos 91 anos, no RJ, em 2001.

Já a Aurora... se fosse realmente sincera... ganharia um lindo apartamento com porteiro e elevador...

Mas o Carnaval também era feito do Corso. Adivinhem quem abria o desfile? É claro que era o General da banda...

E quem trouxe como companhia, aquele que prometeu à mãe ser um Soldado de Israel

E o barulho aumentava, quando chegava... a Turma do funil ...

A alegria do Carnaval e o romantismo da Seresta estão presentes nas noites de gala. Sabem por quê? Os carnavalescos apaixonados não dispensavam uma serenata, aí... no meio da folia, aproveitavam para fazer declarações de amor às suas amadas, cantando Grilo seresteiro ...

E quem não tinha dinheiro, nem fantasia? Ah... isso não era problema, pois no Carnaval de rua, não faltava o Bloco do sujo....

Ainda havia quem se caricaturava para se divertir à toa e sair pedindo: Me dá um dinheiro ai. À noite, a brincadeira se estendia pela Avenida Iluminada

No entanto, alguns aproveitavam a oportunidade, para se esconder por trás da... Máscara negra.

Vocês sabem a história da Cabeleira do Zezé? A ideia de compor esta música surgiu no Bar São Jorge, em Copacabana, no RJ. Chegando lá com a namorada, João Roberto Kelly, compositor, notou um garçom de cabelos compridos, costume raro naquela época. Desconfiou do garçom, José Antônio, conhecido como ``Zezé``, não por conta da opção sexual, mas pela ousadia de dar umas ``olhadas`` para sua namorada. Kelly não reagiu, mas guardou a fisionomia de Zezé. Dias depois, trocou ideias com Roberto Faissal, ator, concluindo, assim, o grande sucesso carnavalesco: Cabeleira do Zezé, gravado por Jorge Goulart, em 1963, para o Carnaval de 1964

A ``melhor idade`` de hoje somos nós de ontem que curtíamos e ainda curtimos esta festa, arrebatando aplausos quando carregamos o estandarte da Bandeira branca (de Max Nunes e Laércio Alves). Grav.: Dalva de Oliveira, em 1969

João de Barro (o Braguinha) e Noel Rosa, em 1934, compuseram uma marcha para o Carnaval, inspirados nos ranchos que saíam em Vila Isabel no Dia de Reis (6 de janeiro), com o nome de ``Linda Pequena``, gravada, sem nenhuma repercussão, por João Petra de Barros.

Depois da morte de Noel, Braguinha a inscreveu, em 1938, num concurso de músicas de Carnaval, com algumas mudanças nos versos de Linda Pequena, cujo título foi trocado para As Pastorinhas. A composição obteve o 1º lugar, sendo gravada por Sílvio Caldas, em janeiro de 1938, com enorme sucesso. Unamo-nos às Pastorinhas, que na década de 30 espargiam folia na Vila Isabel.

Mas as pastorinhas não vieram sozinhas. Para contagiar a multidão convidaram os amigos da Chiquita bacana, só faz o que manda... o seu coração.

Reencontremos, agora, a Maria Candelária, grande sucesso carnavalesco, em 1952, traduzindo inteligente sátira ao funcionalismo público brasileiro.

Abracemos, agora, a Lili analfabeta, outra linda marchinha carnavalesca, que agitou, intensamente, os foliões no Carnaval de 1958.

Enquanto esta turma desfilava, alguém se preocupava com a situação da Jardineira, talvez a marcha mais entoada em nossos Carnavais, obtendo o 2º lugar no Concurso, realizado em 1939. (De Benedito Lacerda e Humberto Porto). Gravação: Orlando Silva.

Foliões
Os foliões molhados de suor, e morrendo de calor, pediam, em tom de apelo, para não ficarem nus: Me dá um gelinho ai... No primeiro clarim, o Pierrot apaixonado que vivia só cantando por causa de uma colombina, ouviu o que não queria ouvir, mas, é Carnaval e no Carnaval acontece isso e muito mais.

Já no início dos festejos vesperais, éramos surpreendidos com a chegada de faraós que vieram do Egito saudando o público com Ala-la-ô.

Assim como na vida, no Carnaval, sempre houve, há e sempre haverá amigos sinceros e sinceros amigos, todavia há uma categoria que mereceu e ainda merece seu enquadramento no Cordão dos puxa saco

Há foliões assumindo a criança que existe dentro de si, querendo chupeta e gritando forte: Mamãe eu quero...

Querendo aproveitar os últimos momentos, lembramo-nos da Anália. Vamos convidá-la para ir até a Maracangalha

E quem não tinha o seu broto? Quem não tinha o seu ``sassarico``? Como fazia? ``Sassaricava``, é claro! E foi com Sassaricando, que os foliões pegaram fogo cantando.

Carnavais passados, das décadas de 30, 40 e 50, não podem ser esquecidos. Por essa razão, a Chiquita Bacana, filha de Braguinha e de Alberto Ribeiro, antes de partir, pediu à sua filha para não deixar o Carnaval morrer. O fato é que a filha da Chiquita Bacana, hoje com 35 anos de idade, cujo pai é Caetano Veloso, entrou nos salões dos clubes de todo o Brasil, entoando a marchinha que leva o seu nome, gravada pelo próprio Caetano, em 1975

E a tristeza chegava com a Quarta-Feira de Cinzas. Ah, quarta-feira ingrata já diziam os pernambucanos, com o frevo de Luís Bandeira. O jeito era voltar à realidade, e esperar pelos outros carnavais, com a mesma juventude e matar as saudades de um tempo encantado de sonhos povoados de alegria e de total esperança que já não volta mais. E para a despedida do tempo momino o melhor era apelar para o Cielito Lindo dos mexicanos nos períodos mominos ou não... Vamos terminar, desejando aos leitores de O POVO, um Carnaval alegre, se possível com familiares e amigos. Esperamos reencontrá-los no próximo Carnaval, para renovarmos esta curtição plena de lembrança que nos fazem voltar aos idos das belas e empolgantes composições que ainda hoje nos lavam a alma em sadia descontração.

Puiblicado no jornal O POVO - Fortaleza - 13/fev - caderno Jornal do Leitor

Um comentário: