sábado, 29 de novembro de 2008

A TORRE

Francisco Nonato (fnogueiranonato@bol.com.br)

cidade: Natal
estado: RN
idade: De 61 a 70 anos
sexo: masculino
categoria: ESTÓRIAS
texto: A TORRE

De longe ainda se pode avistar brilhando ao sol, uma velha torre do que parece ter sido uma bonita igreja. Chegando-se um pouco mais perto, parece um local desolado. Ao invés de recordar o que teria sido um lugar de orações, parece mais com um lugar maldito, abandonado, triste, onde nenhuma relva nasceu. Em cima do alto, um vento frio e cortante, sopra constantemente. Contam os mais velhos que naquele local aconteceram coisas extraordinárias, inacreditáveis para nós mortais. Uma delas nos deixou bastante impressionados: Era o inicio da construção da cidade e como quase sempre ocorre, pensou-se logo na construção de uma igreja, o que foi feio com a colaboração total dos moradores que por ali começavam a chegar, em busca de vida nova. De repente, ninguém sabe de onde chegou um padre. Seu jeito alegre, sempre com um indisfarçável sorriso na boca, cativava a todos. Pregava como poucos e dizia coisas que a cada dia plantava nos corações de uns alegria, de outros tristezas, desconfiança. Era que o padre sabia do passado, e, o mais intrigante, do futuro de cada uma daquelas pessoas que ali estavam, na sua frente, naquela cidade. Por estes motivos, casais se desfaziam, casamentos se acabavam, namoros cessavam, e, o povo foi deixando de se comunicar. Era uma cidade completamente muda, pensativa, pois todos estavam ocupados apenas com os seus próprios problemas. Certo dia, Damião e Soledade resolveram se casar, mesmo contrariando os conselhos do misterioso padre, que lhes havia vaticinado, no seu modo de ver o futuro, um fim trágico para o jovem e querido casal. Casaram-se assim mesmo, em meio a uma grande festa, proporcionada pela população, que gostava enormemente daquele casal. Uma alegria enorme tomou conta da cidade naquele dia. Uma carroça, ornamentada, puxada por dois belos cavalos estava pronta para conduzir os noivos à frente da multidão, para continuação da festa em sua casa. Tudo seguia normalmente. De repente, sem se saber por que os cavalos se espantaram e disparam numa desembestada carreira, atropelando gravemente algumas pessoas. Os noivos, na carroça, apesar da força de Damião, não conseguiam pará-lo. Um pouco mais à frente a carroça virou, jogando Damião e Soledade a uma grande distancia. Ao chegarem logo em seguida, os convidados puderam ver os dois jovens inertes, estavam vivos, mas não se moviam. Os convidados que era quase toda população do povoado, revoltados caminharam de volta, armados de paus, pedras e de tudo que podiam pegar, chegaram na igreja, estava fechada. Procuraram o padre, não encontraram. Enfurecidos e raivosos. Começaram a quebrar portas e janelas da igreja. Quebraram tudo. Tocaram fogo no que restou. Conta-se que alguém avistou o padre em meio ao fogo, pulando de uma janela, no rosto aquele indisfarçável sorriso. Nunca mais souberam noticias dele. Damião e Soledade, cada um em seu leito, da varanda da casa que haviam construído, olham a velha torre movem apenas suas cabeças, se entreolham e se pode ver uma lágrima correndo pelo rosto de cada um.

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